Razão ou Emoção – Reflexões econômicas em tempos de copa do mundo
Dado o enfraquecimento da atividade econômica através da queda da confiança do consumidor entendemos que os dados revelados ao longo de junho não só reforçaram este contexto como também trouxeram preocupações adicionais.
As estatísticas de vendas no varejo e produção industrial seguem ratificando o processo deesaceleração . A julgar pelo calendário de junho repleto de feriados,meia jornada e festividades devido a Copa do Mundo, fica praticamente impossível acreditar que o mês que acaba de se encerrar tenha sido positivo para alguma retomada, pelo contrário!
Neste contexto, as últimas divulgações econômicas começam a revelar uma realidade mais desafiadora.
A lista começou com o anúncio, pelo Banco Central, de que o rombo nas contas externas de US$ 6,3 bilhões( transações correntes ) havia sido o pior para maio desde 1947. No mesmo dia, o Ministério do Trabalho revelou que o total de vagas formais criadas no mês de maio (58,8 mil) era o menor já registrado no período em 22 anos. Por último, mas não menos importante, foi a vez de o Tesouro Nacional assumir que as contas públicas computaram, às vésperas do Mundial, um déficit de R$ 10,5 bilhões ( superávit primário ), número sem precedentes para maio desde que o governo assumiu um compromisso com o ajuste fiscal, em 1997.
Nada bom.
Este resultado não só reforça a dificuldade de se equilibrar as contas públicas em um ambiente de descompasso entre as dinâmicas de receita e despesa como expõe a fragilidade de se utilizar a política fiscal de maneira cíclica em um contexto de fraco crescimento.
Por fim, tamanha decepção com o resultado fiscal do mês de maio acaba por trazer de volta o receio com velhos fantasmas que contribuíram, e muito, para arranhar nossa credibilidade. Cresce a probabilidade de não atingirmos a (baixa) meta de 1,9% de superávit primário com relação ao PIB para este ano, pois o terreno fica mais fértil para o uso de contabilidades criativas para postergar o reconhecimento do desequilíbrio das nossas contas públicas.
Contabilidade criativa esta que ninguém mais reconhece como verdade. O mercado já entende que o superávit primário é inferior ao publicado pelo governo.
O objetivo aqui não é ser alarmista, mas reconhecer que estamos atravessando uma divergência entre sentimento e fundamento, e que essa divergência tem aumentado.
Fechamos o primeiro semestre do ano com uma forte performance dos ativos financeiros, movimento que teve início em meados de março, em que o principal catalisador foi a revelação das pesquisas eleitorais, mostrando que a presidente Dilma não estava tão firme assim para a sua reeleição e obrigou o mercado a precificar uma possível alternância de poder.
É importante entender o papel do sentimento e como ele tem sido decisivo para atribuir todo este destaque positivo no desempenho do Mercado financeiro. O sentimento nos mercados melhorou muito e permanece bem suportado baseado totalmente na hipótese de alternância de poder no fim do ano.
No curto prazo, mantemos nossa visão de que a divergência entre a piora do fundamento e a manutenção de um sentimento ainda elevado deverá se sustentar
Fundamento ou sentimento?
Neste cenário nem sei se torço para o Brasil ganhar a copa….
Fonte de Dados:Valor Econômico e XP Investimentos